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Livro Impresso

Geração armada
literatura e resistência em Angola e no Brasil



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Sinopse

"Para mim, a literatura continua sendo aquilo que nos salva, inclusive de nós mesmos. Da nossa humanidade tão difícil.”

Estas belas palavras são da autora desta obra, quase no seu encerramento, comentando a distância de dez anos entre a conclusão de sua dissertação de mestrado, que é a matriz desta publicação, e sua edição definitiva agora, sob a forma de livro.

De certo modo, esta observação cabe também como síntese dos testemunhos que ela, Marina, analisa, de dois ex-guerrilheiros escritores ou vice-versa, Pepetela em Angola, e Carlos Eugênio Paz no Brasil.

São muitos os aspectos abordados neste livro indispensável para quem quiser se debruçar sobre a história da luta armada em ambos os países, suas ressonâncias nas respectivas literaturas e também sobre a ressonância do empreendimento literário na leitura dos eventos históricos passados.

O fulcro da reflexão de Marina acerca da experiência da guerrilha e a posterior experiência literária está no cotejo comparativo entre duas opções éticas com a consequente recuperação da história pela “estética do testemunho”.

As duas opções éticas são a da decisão de aderir à luta armada e, depois, a de narrar esta adesão e suas consequências, pesando suas contradições, trajetórias, impasses, fracassos e conquistas. A estética do testemunho impõe o redimensionamento da experiência pessoal pela construção ficcional, ao invés do outro caminho, que seria o do depoimento autobiográfico.

A opção estética alarga os horizontes do depoimento, permite o desdobramento do ponto de vista dos autores e dá mais liberdade para a reflexão a posteriori sobre o que de fato aconteceu, e também sobre o que era projeto, mas deixou de acontecer, e as cicatrizes destas fricções que se dão no campo da memória.

A leitura comparativa – e muito rica pelo cotejo que faz – de Marina lembra dois títulos da trilogia de Isaac Deutscher que narra a biografia de Leon Trotsky. O primeiro título é o da “Derrota na vitória”, do livro O profeta armado. Ele recobre a experiência dos guerrilheiros e do narrador em terceira pessoa (mas que procura dar voz à intimidade de seus personagens através do indireto livre) diante da conquista de seu objetivo primeiro – a independência de Angola – mas do fracasso de seu projeto de transformação radical da sociedade em que viveram ou vivem. A Angola independente não é o país socialista que almejavam, mas continua devorado pelas contradições da sociedade capitalista que eles desejavam combater e revirar de pernas para o ar. A percepção deste “vazio” transparece nas palavras do ex-guerrilheiro Aníbal: “perdi poucas batalhas, mas sou um vencido”.

Já o título seguinte, “Vitória na derrota”, do livro O profeta banido, se aplica à trajetória do guerrilheiro fictício Clamart, um alter ego do Clemente em que Carlos Eugênio se transformou ao aderir à luta armada. Clamart perdeu quase todas as batalhas em que entrou; perdeu a guerra. Mas depois do furacão enfrenta outra tempestade, esta íntima, que é a da reconstrução da memória, no esforço de sobrepujar o esquecimento individual e coletivo. Neste sentido, a sua narrativa é uma vitória, não ocultando nem mesmo os duros embates éticos e antiéticos que sua opção lhe apresentou.

Ao fim e ao cabo deparamos com três vitoriosos, que encaram as contradições dos momentos que viveram. Os dois autores dos livros cotejados, e a leitora crítica e perspicaz que é Marina Ruivo, cujo cotejo entre as obras ressalta as peculiaridades de cada uma, dentro do esforço comum de transformar o mundo que elas guardam e reiteram por meio da reconstrução da memória.

Flávio Aguiar



Sobre a autora: Marina Ruivo é doutora e mestre em Letras pela USP. Preparadora e revisora de textos há mais de dez anos, atualmente é professora da Faculdade Cásper Líbero e tem contos publicados em revistas literárias como a R.Nott e a Diversos Afins. Mantém uma coluna mensal na Revista Samizdat.

Metadado adicionado por Alameda Editorial em 23/07/2018

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Metadados adicionados: 23/07/2018
Última alteração: 17/11/2024
Última alteração de preço: 17/11/2024

Autores e Biografia

Ruivo, Marina (Autor) - Marina Ruivo é doutora e mestre em Letras pela USP. Preparadora e revisora de textos há mais de dez anos, atualmente é professora da Faculdade Cásper Líbero e tem contos publicados em revistas literárias como a R.Nott e a Diversos Afins. Mantém uma coluna mensal na Revista Samizdat.; Chaves, Rita (Apresentação) , Aguiar, Flávio (Orelha)

Sumário

SUMÁRIO:

Apresentação - 11
Rita Chaves

Introdução - 19

Capítulo 1 – literatura e resistência – 33
Uma narrativa testemunhal - 33
O que foi feito deverá - 45
Resistência e literatura - 47

Capítulo 2 – Há lugar para a chama da utopia? - 63
Tempo de vivência da luta, tempo de vivência da derrota - 63
O tempo em Viagem à luta armada - 66
O início de tudo - 66
Infância - 73
Adolescência e luta - 74
Intermezzo - 76
Diogo - 77
Coordenação Nacional - 79
O vazio do presente - 81
A força da narração - 85
O tempo em A geração da utopia - 91
O tempo de vivência da luta - 99
Efervescência coletiva - 99
A derrota antes do fim - 105
O tempo de vivência da derrota - 118
A derrota na vitória - 118
Perdição? - 128

Capítulo 3 – Entre urbes e campos - 137
O cenário da luta armada - 137
Uma narrativa urbana - 139
O espaço inicial - 140
O espaço da terapia - 143
Lá fora - 145
Lá dentro - 152
Nos aparelhos - 154
O espaço de uma nação - 157
As ruas de Lisboa - 159
A áspera natureza - 163
Domínio das águas - 169
Cidade degradada - 172

Capítulo 4 – Literatura e guerrilha - 177
Clemente: O guerrilheiro escritor - 177
Pepetela: O escritor guerrilheiro - 188

Capítulo 5 – A chama revolucionária - 199
“Tercer Mundo global” - 200
Em terras brasileiras - 202
1964 - 205
As esquerdas brasileiras pré-64 - 207
O golpe - 210
As esquerdas depois do golpe - 211
As divergências entre as esquerdas - 215
1968 - 219
Depois do AI-5 - 222
O MPLA e a história angolana - 228
“Vamos descobrir Angola” - 233
…E lutar por sua independência - 237
A via armada - 239
Os angolanos na Europa - 240
A guerra - 243
A independência - 253
E a guerra, ainda - 255

Considerações finais - 261

Referências bibliográficas - 271

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