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Militão Augusto de Azevedo
fotografia, história e antropologia



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Sinopse

Clicar São Paulo em meados do século XIX não era tarefa fácil. Essa cidade de barro, que mantinha e fazia conviver sinais dos novos tempos, com o perfil colonial, que insistia teimosamente em permanecer e perdurar, era tarefa de Militão; ao mesmo tempo um artista e um artesão. O fotógrafo padecia de uma espécie de “complexo de Nabuco”, uma vez que se a realidade com a qual lidava diariamente era brasileira (e pior, paulistana), a imaginação continuava europeia. Ou seja, nosso artista, como bom artista, não se afastava de seu contexto, ou do imaginário desse momento, e tentava encontrar uma imagem progredida dessa urbe ou mesmo “admirável”.

No entanto, o que sua lente gravava era bastante distinto, uma vez que temporalidades variadas conviviam: a pressa desse final de século, com a morosidade do tempo das carroças e da poeira fácil; a era da miríade de invenções, com uma população pouco afeita a tanta novidade. Militão, por seu turno lidava de maneira ambivalente diante da realidade com que diariamente se deparava. Sua clientela não era tão distinta como gostaria de apostar; São Paulo escapava do modelo que então se idealizava.

É essa personagem fascinante, mas em tudo contraditória, que Íris Morais Araújo persegue, tal qual detetive atento a qualquer sinal ou pista que lhe permita perscrutar o mistério ou desvendar a incógnita. Nada parece escapar ao olhar da pesquisadora, que descreve o contexto, analisa a biografia de seu objeto dileto – fotógrafo e fotografia –, descobre documentos e os submete a uma operação de cruzamento analítico. Cruzar fontes é seu ofício, e é por isso que a investigação não se contenta em se limitar à análise das fotos de Militão. Ao contrário, Íris explora com primor as cartas legadas pelo artista, assim como recupera um velho Índice; um belo e inesperado indício das redes de sociabilidade, não sem dificuldades, construídas pelo fotógrafo.

Ao invés de engrossar “o coro fácil dos contentes”, ou melhor, daqueles que só identificam nas fotos de Militão sinais do progresso e de otimismo diante da evolução social e urbana experimentada em São Paulo, Íris desconfia e, fiel ao espírito da antropologia, persegue “o olhar do observado”: o brilho das lentes de seu fotógrafo. E o resultado é não só impactante como bastante contraditório: se Militão encantou-se, sim, com a possibilidade de desenhar São Paulo como uma corte futura – republicana até –; de alguma maneira estranhou a particularidade da urbanização local. Talvez por isso progresso tenha que ser pensado no plural, como causa e não resultado; começo de conversa e não conclusão do tipo “viveram felizes para sempre”.

Lilia Moritz Schwarcz

Sobre a autora: Íris Morais Araújo nasceu em Santos (SP), em 1980. É bacharel em Ciências Sociais e mestre em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo. Atualmente, realiza seu doutorado em antropologia na mesma instituição.

Metadado adicionado por Alameda Editorial em 24/05/2018

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Metadados adicionados: 24/05/2018
Última alteração: 06/05/2024
Última alteração de preço: 06/05/2024

Autores e Biografia

Araújo, Íris Morais (Autor) - Íris Morais Araújo nasceu em Santos (SP), em 1980. É bacharel em Ciências Sociais e mestre em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo. Atualmente, realiza seu doutorado em antropologia na mesma instituição.; Schwarcz, Lilia Moritz (Orelha)

Sumário

1. Agradecimentos

2. Apresentação – Lilia Moritz Schwarcz

3. Introdução: Um fotógrafo e uma questão: “progresso”

4. Capítulo 1: O legado de Militão e seu processo de musealização

5. Capítulo 2: Militão sob vários ângulos e interpretações

6. Capítulo 3: Militão, fotógrafo: sobre tramas de relações e algumas desditas, mediadas pelas fotografias

7. Capítulo 4: “Almocei monarquista e jantei republicano”: Militão anota a República

8. Capítulo 5: O espetáculo do progresso de São Paulo ou o álbum comparativo de Militão

9. Considerações finais: “Antigos paulistas” em meio à modernização

10. Acervos consultados

11. Fontes

12. Referências bibliográficas

13. Créditos das figuras

14. Anexo: Legendas das fotografias do Álbum comparativo da cidade de São Paulo (1862-1887)

15. Caderno de figuras (vários arquivos)

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