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Livro Impresso

Tratado dos anjos afogados



Ariel, Marcelo (Autor)

Tratado, anjos, afogados, Marcelo Ariel


Sinopse

SIM AOS AFOGADOS - Prefácio de Mariana Ianelli*

“Fala-se em vão de justiça, enquanto o maior dos navios de guerra não se despedaçar contra a fronte de um afogado” - Paul Celan

Aqui não atravessamos o poema: somos por ele varados. Ficamos abertos, fendidos para o encontro, “vítimas vivas / do tempo”, no fogo ondulante entre o ainda-não e o não-mais. Somos passagem, sopro que anima o poema e dá vôo à grande Fênix que ele foi, é e será. Chegamos a esta clareira da presença, a este Ainda-e-Sempre de que falava Paul Celan, poeta de luz submersa em sombra, de quem Marcelo Ariel conhece a flor.

“Suavemente penetrei num jardim / onde a única árvore existe”, canta Ariel. Aqui estamos, onde o sonho se cristaliza, aqui nos encontramos, onde a orquídea do silêncio se arregaça, juntos colhemos da palavra o seu bastante: tudo o que lhe falta dizer.

Ariel, na sua “intuição selvagem”, escreveu uma vez que gostaria de pintar “apenas as nuvens, o mar e as folhas que caem no chão”. Misturadas as tintas e as águas, tempos depois, um raio explode no coração do mundo, como em uma das telas incendiárias de William Turner: o Tratado dos anjos afogados.

Se “nenhuma frase será capaz de traduzir / esse vítreo sentimento vasto” do poeta, há, no entanto, a música no fundo de uma voz que suplanta com o seu murmúrio de fonte o estrondo da barbárie, o horror humano, a obscuridade; há um outro sol absoluto se imiscuindo nos vãos da vida transbordada; há o mais além dos nomes, o mistério latente no poema, a ponto de ser amado. Pois amemos, sem desunir luz e sombra.

Movido pela metamorfose, algo lamentavelmente raro na poesia contemporânea, Ariel se fantasmagoriza, transmudado em ninguém, e, moldando sua matéria de sonho, silêncio e saudade com um pincel de bruma, torna-se Ulisses diante do ciclope: “qualquer homem pode ser Ulisses / caminhando na praia ao entardecer / Se na gruta de si mesmo ecoa em tudo / a pergunta do ciclope-mundo”.

Contra a navalhada cotidiana, vai o poeta rasgando o espaço escuro com um “diamante (...) capaz de reconhecer a alma ou seja a terrível gratuidade da beleza” e, por essa abertura afogueada, também ele se abre em plena transparência para “o encontro de uma autêntica filia”. Assim trespassado pelo poema, Ariel elide o “espelho dos distanciamentos” e convoca o espírito para além da palavra espírito, o amor para além da palavra amor, no “azul / feito de gelo / flamejante”. Trespassados também ficamos nós, pelo afeto, feridos, sim, por essa chaga de estrelas dentro da noite.

E essa chaga pode iluminar-se bem ali, no canto do poeta, como de fato se ilumina, mal contida entre parênteses: “(Ainda estou no açougue-presídio, a chegada da tropa de choque não me acordou do metafísico)”. Balas perdidas, chacinas, granadas, valas escancaradas, e Ariel põe Simone Weil a pensar. O inferno se alastra? Pois o poeta de Cubatão caminha por ele, e sonha: “penso, logo, sonho: / (...) Sonho que não existo.../ Sonho com Baudelaire me dizendo que: ‘A vida humana vale menos do que uma fábula de Akutagawa’, / Sonho com Jorge de Lima lendo ‘A Invenção de Orfeu’ para Brian Wilson, / Sonho que sou um peixe de gelo / e lentamente me transformo em um peixe de fogo, / Sonho que acordo e não me lembro onde deixei meu corpo”.

Em um dos diálogos estelares deste Tratado, conversam Francis Ponge e Paul Celan. E se imaginássemos o diálogo possível entre Celan e Ariel? Talvez ambos se calassem, simplesmente. Mas no olho do silêncio, em meio à insistente negativa do mundo, nosso poeta guardaria “algo / melhor do que uma resposta”: sim aos afogados, contra os quais o maior dos navios de guerra não se despedaçou.
___________
*Mariana Ianelli é jornalista, poeta e mestre em Literatura e Crítica Literária, autora dos livros Trajetória de antes (1999), Duas Chagas (2001), Passagens (2003), Fazer Silêncio (2005) e Almádena (2007) – todos pela Editora Iluminuras, SP.

Metadado adicionado por Editora e Livraria Letra Selvagem em 17/02/2021

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Metadados completos:

  • 9788561123000
  • Livro Impresso
  • Tratado dos anjos afogados
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  • 1 ª edição
  • Coleção sentimento do mundo
  • 1
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  • Ariel, Marcelo (Autor)
  • Tratado, anjos, afogados, Marcelo Ariel
  • Literatura nacional
  • B869
  • Poesia / Geral (POE000000)
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  • 2008
  • 01/01/2008
  • Português
  • Brasil
  • acima de 12 anos
  • Não recomendado para menores de 18 anos
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  • 14 x 21 x 1 cm
  • 0.15 kg
  • Brochura
  • 216 páginas
  • R$ 40,00
  • 49019900 - livros, brochuras e impressos semelhantes
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  • 9788561123000
  • 9788561123000
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Metadados adicionados: 17/02/2021
Última alteração: 17/02/2021

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