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Poesia


Sinopse

O inefável foi sentido no corpo, e, justamente por isso, é do corpo, não está elevado aos céus, ainda que continue transcendental, ainda que se sugira o divino pelo tamanho impacto inexprimível. Porém, não estamos em tempos medievais. Singularmente, a vivência trouxe um quase-quê, aquilo que na ponta da língua é impossível de tradução, mas que impulsiona o fazer sentido, o ter de dizer. Afasia seria um nome significativo, se não tivessem adoecido a palavra, o fato é que o nó na garganta é propulsor das muitas palavras que concatenadas usam-se e formam o universo das relações e o concreto simbólico do mundo da linguagem. A proposta é que a mudez resoluta da inefabilidade é mãe de todo assobio comunicativo numa tentativa inócua de resgatá-lo pleno, assim como o homem quer seu ascenso ao paraíso após a queda, mas que sempre lhe faltará. O homem está condenado, não é nenhuma novidade, e caminha para a derrota taxativa, a morte, onde não poderá dizer uma mísera palavra nem escutar o seu silêncio abismal. Queria ele, ainda razoável, ter a expressão da experiência indizível, poder ler com verborreia uma página em branco, ser locutor do impossível, além dessa vívida imaginação que só parte adiante do primeiro A, e daí se faz todas as caraminholas possíveis no transcorrer dos tempos como novo, vanguarda ou tradição. E diante da experiência subjetiva do “não A”, ou seja, daquilo anterior à letra, o que não se concatena, o que não se significa, mas é pleno de significado porque toma todo o corpo e tampona qualquer ausência? O inefável? Seria um homem em perseguição disso, nem todos, é como cristicidade e cristandade, alguns comparecem à igreja, outros experimentam o divino. E se estivesse louco mudaria de alguma forma a sensação genuína do inefável no corpo? Óbvio que não, e é mais provável que esta subjetividade sui generis ocorra em estados não normóticos de vivência ou de contemplação do existir, não se poderia na rotina que traga um espírito em operações enfadonhas conseguir absorver em si uma sensação de totalidade inexplicável e inexprimível, ou na tagarelice do cotidiano ser tomado pela resolução absurda de uma alma que se sente repleta como se atingisse os céus. Mas incomum seria ter a certeza mais humana numa afasia que transcende o próprio ser por sentir-se ser absolutamente num turbilhão de mesmidade, em que a repetição pobre de espírito do comum parece ser a marca mais humana da humanidade pela sua recorrência.

Metadado adicionado por Scortecci Editora em 05/03/2025

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Metadados adicionados: 05/03/2025
Última alteração: 05/03/2025

Autores e Biografia

Muniz, Leandro dos Reis (Autor)

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