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Os olhos dos outros



Reconhecimento, psicanálise, comportamento, ação, distúrbio psiquiátrico, loucura, sonhos, crises existenciais, luta antirracista, urbanidade, catadores de rua, moradores de rua, nosso tempo, distopia, paranoia, fuga, trama


Sinopse

Ramiro acorda e ninguém o reconhece. Ninguém sabe quem ele é. Nem os colegas da pensão onde mora, nem Maya, por quem alimenta uma paixão de longe. Agente administrativo da Biblioteca Pública do Estado, ele se lança na procura desesperada por alguém que o reconheça. Obsessivo em seus métodos e racionalizações, perturbado pelas lembranças que lhe atravessam e por angústias de cancelamento, Ramiro anseia encontrar algum sentido verossímil a essa estranha constatação — seu desaparecimento dos olhos dos outros. Expulso da pensão, ele erra numa Porto Alegre que arde em calores surreais, buscando companhias, tetos, olhos que lembrem dele. Inconsciente, busca no amor alguma resposta, ainda que vaga.

Manoel Madeira é psicanalista e escritor. Graduado em psicologia (UFRGS), mestre em antropologia (EHESS). Foi professor da Université Paris-Diderot Sorbonne Cité, onde rea­lizou mestrado e doutorado em psicanálise. Lecionou no Departamento de Psicanálise da UFRGS como professor adjunto. Autor do romance Ausentes (Diadorim, 2018). Organizador e coautor de Contos de Psicanálise (Diadorim, 2020), livro finalista do Prêmio Ages de Literatura. É colaborador do Jornal Boca de Rua e Membro da APPOA.

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Metadados adicionados: 12/09/2022
Última alteração: 12/09/2022

Autores e Biografia

Madeira, Manoel (Autor)

Sumário

Trecho do livro:
"Como pode? As pessoas não lembram mais de mim? Fui apagado da memória delas? Não existe isso. (...) É estranho: eu reconheço perfeitamente o mundo. Vagueio no telefone, olho as notícias e lembro de tudo. Talvez eu tenha sido acometido por algum distúrbio psiquiátrico raríssimo ou mesmo único, jamais visto. É como acordar de um sonho às avessas: não é o mundo em volta que desa­pareceu — fui eu que desapareci do mundo.
Talvez tenha sido tudo delírio. Meus últimos anos. Mas não, não posso estar louco. Justamente por isso. Na loucura, a pessoa se perde do mundo. No meu caso, foi o mundo que se perdeu de mim."

Apresentação de Luis Augusto Fischer, professor e escritor

A vida pode ser simples quando estamos do lado de cá do limite. Refeições disponíveis, salário em nível bom, um teto, roupas, quem sabe até uns livros, um celular de boa capacidade e linha na internet. De que mais precisamos?
A vida é simples quando andamos por ela e somos chamados pelo nome. Quando nos reconhecem e nos reconhecemos. Experiências, vivências, família, amor, tudo tem nome e data, tudo nos posiciona com serenidade no grande tumulto do universo: somos quem somos porque a história e os outros nos garantem que assim é, assim somos.
Mas o que se precipita quando nada nos devolve a imagem certa, quando as percepções e as coisas todas não organizam nosso mundo a contento?
Manoel Madeira construiu aqui uma narrativa singular: um relato que anseia por paz de espírito mas dá a ver a trajetória demoníaca de um indivíduo que perdeu coisas e pessoas com que havia construído sua identidade, do passado remoto, pai e mãe e infância inocente, ao presente imediato, na pensão degradante e no emprego desvalorizado. Perdeu e seguiu vivendo, nas ruas da mesma Porto Alegre bem conhecida, num supermercado igual a qualquer outro, junto a catadores de rua como aqueles que diariamente evitamos.
Perdeu mas busca, com o desespero dos que ultrapassaram o limite, recuperar um fio, um suspiro, um lampejo, capaz de recolocá-lo num patamar mínimo de decência vital. Escrito num ritmo que combina ligeireza no miúdo e devastação no conjunto, Os olhos dos outros é um romance magnífico sobre nosso tempo.




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