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Pensamentos
Do Sr. Pascal sobre a religião e sobre outros assuntos, encontrados entre seus papéis após sua morte



genialidade, estudos filosóficos, Referência, Pensadores clássicos, C.S. Lewis, idade moderna, gênio, J. R. R. Tolkien, filosofia


Sinopse

Que aqueles que combatem a religião saibam ao menos o que ela é antes de combatê-la. Se essa religião se vangloriasse de ter uma visão clara de Deus, exposta e sem véu, seria combatê-la dizer que não há nada no mundo que o mostre de modo evidente. Mas, como ela afirma, ao contrário, que os seres humanos se encontram nas trevas e afastados de Deus, que ele se ocultou ao seu conhecimento, e que esse é, inclusive, o nome que ele dá a si mesmo nas Escrituras, Deus absconditus [Deus oculto]; e, enfim, se ela busca igualmente estabelecer estes dois fatos — que Deus introduziu marcas perceptíveis na Igreja para se fazer reconhecer por aqueles que o procuram sinceramente e que, não obstante, as encobriu de forma a ser percebido apenas por aqueles que o procuram de todo o coração —, que vantagem podem eles obter quando, em sua professada indiferença em buscar a verdade, protestam que nada a mostra? Pois essa obscuridade em que eles se encontram e que objetam à Igreja não faz nada além de estabelecer um dos dois fatos que ela sustenta, sem afetar o outro, e confirmam a doutrina da Igreja, em vez de arruiná-la. Para combatê-la, seria preciso que clamassem que fizeram todos os esforços para a procurar por toda a parte, até no que a Igreja propõe para sua instrução, mas sem obter nenhum resultado. Se assim falassem, combateriam, na verdade, uma de suas pretensões. Mas espero mostrar aqui que nenhuma pessoa racional pode falar dessa forma; e ouso até mesmo dizer que ninguém jamais o fez. Sabemos muito bem de que maneira agem aqueles que se encontram nesse estado de espírito. Creem terem feito grandes esforços para se instruir, quando dedicaram algumas horas à leitura das Escrituras e perguntaram a algum eclesiástico sobre as verdades da fé. Depois disso, gabam-se de haver buscado sem sucesso nos livros e entre as pessoas. Mas, na verdade, não posso deixar de lhes dizer que essa negligência é intolerável. Não se trata aqui do interesse despreocupado de qualquer pessoa estranha: trata-se de nós mesmos e de nosso todo. A imortalidade da alma é algo que nos importa tanto, e que nos toca tão profundamente, que seria preciso ter perdido todo o sentimento para permanecer indiferente quanto a saber de que se trata. Todas as nossas ações e pensamentos devem tomar caminhos tão diferentes conforme haja ou não bens eternos a esperar que é impossível dar um passo com sensatez e juízo sem levar em conta esse ponto, que deve ser nosso objetivo final. Assim, nosso primeiro interesse e dever é esclarecer essa questão, da qual depende toda a nossa conduta. E é por isso que, entre aqueles que não estão convencidos disso, estabeleço uma distinção absoluta entre os que lutam com todas as forças para se instruir e os que vivem sem se dar a esse trabalho e sem pensar nisso. Só posso ter compaixão por aqueles que sofrem sinceramente com essa dúvida, que a encaram como a pior das infelicidades e que, sem poupar esforços para dela escapar, fazem dessa busca sua principal e mais séria ocupação. Porém, quanto àqueles que passam a vida sem pensar nesse fim último da vida e que, por essa única razão, não encontram neles mesmos as luzes da persuasão, deixando de procurá-las em outro lugar e de examinar a fundo se essa opinião é daquelas que o povo aceita por uma simplicidade crédula, ou daquelas que, embora obscuras nelas mesmas, possuem, não obstante, um fundamento bastante sólido, eu os considero de uma maneira bem diferente. Essa negligência em um assunto que diz respeito a eles mesmos, a sua eternidade, a seu todo, me desperta mais irritação do que compaixão; ela me espanta e me apavora; é um monstro para mim. Não digo isso pelo zelo piedoso de uma devoção espiritual. Ao contrário, entendo que o amor-próprio, que o interesse humano, que a mais simples luz da razão nos devam transmitir esses sentimentos. Basta para isso ver o que veem as pessoas menos esclarecidas.

Metadado adicionado por Editora Mundo Cristão em 14/02/2025

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Metadados adicionados: 14/02/2025
Última alteração: 20/03/2025

Autores e Biografia

Pascal, Blaise (Autor)

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