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Psicologia fenomenológica e existencial
fundamentos filosóficos e campos de atuação



Psicologia, Psicologia Fenomenológica, Psicologia Existencial, Fundamentos Filosóficos, Campos de atuação, Fundamentos teóricos, Fundamentos epistemológicos, Psicologia Fenomenológica e Existencial - 1ª EDIÇÃO - Fundamentos filosóficos e campos de atuação, 9786555764642, Fabíola Freire Saraiva de Melo, Gustavo Alvarenga Oliveira Santos, Fundamentos teóricos e epistemológicos da psicologia fenomenológica e existencial, Introdução à fenomenologia


Sinopse

A apropriação de conceitos de uma disciplina por outra implica o apoderamento de concepções originadas em um sistema distinto, o que demanda adoção, assimilação, desvelamento ou criação de possíveis significados. Inevitavelmente, a apropriação de conceitos por disciplinas diferentes daquelas nas quais foram gerados os transforma. Os significados podem assemelhar-se, estar próximos aos de sua origem, mas não são mais os mesmos. Ao serem apropriados sofrem ajustes exigidos pelo novo contexto: modificam-se a fim de se adaptarem, serem aceitos e se incorporarem ao novo habitat.
Apropriação implica, portanto, em movimento. Trata-se de um processo no qual os conceitos apropriados necessariamente criam relações com as culturas nas quais são inseridos e com os valores que ali imperam. Esse fluxo é composto de incorporações, assimilações e ajustes para que os conceitos, transformados, ganhem espaço e se integrem à nova disciplina. Já quando modificados e incorporados, provocam mudanças no modo de compreender os objetos de conhecimento, os objetivos e os modos de concretizar ações da disciplina que os recebe. Em outras palavras, parte e todo se ajustam visando à melhor forma, possibilitando que os conceitos sejam, então, novamente apropriados pelos adeptos do sistema.
A apropriação de conceitos de uma disciplina por outra encontra resistências e, sob certo ponto de vista, é considerada uma usurpação e, principalmente, um desvio do rigor teórico, exatamente por alterar significados. O conceito original, stricto sensu, só teria sentido no sistema em que foi desenvolvido.
No entanto, a história da ciência mostra que a apropriação e a modificação de conceitos podem ser férteis: provocam reordenamentos disciplinares e novas práticas, possibilitam a junção de diferentes campos do saber e o cruzamento de linguagens diversas, criam novos domínios do conhecimento e diálogos interdisciplinares. Neles, o uso do mesmo termo com distintos significados exige o esclarecimento das referências ou a definição de matrizes coletivas que assegurem trocas e, ao mesmo tempo, garantam a preservação da identidade de cada disciplina.
O livro que o leitor tem em mãos possibilita interessantes reflexões a partir das colocações anteriores. A Psicologia se descolou da Filosofia a partir da definição de seu objeto de estudo e do desenvolvimento de conceituações próprias. E, em um movimento interativo, a escolha por esta ou aquela abordagem filosófica determinou as diferentes definições de seu objeto de conhecimento dando origem às múltiplas psicologias.
Em seu desenvolvimento, muitas escolas psicológicas criaram matrizes e conceitos teóricos próprios relativos ao desenvolvimento humano, ao entendimento da personalidade e da psicopatologia, entre outros. A origem filosófica se manteve como base das teorias dessas escolas e permite identificá-las. Houve apropriação de conceitos que caracterizaram certo modo de ver o mundo e o ser humano e de compreender o conhecimento. Já assimilados, os conceitos filosóficos subjazem às reflexões teóricas, à bibliografia disciplinar e às práticas profissionais. Citá-los se torna desnecessário, referências a sua origem filosófica se restringe aos estudos históricos e epistemológicos desta ou daquela teoria e cumpre a importante função de permitir um mapeamento dos diferentes paradigmas existentes na área.
As abordagens psicológicas, assim, ganham corpo próprio e vão se delineando como ciência e não mais filosofia. Por essa razão, se torna desnecessário que em cada estudo do behaviorismo, por exemplo, sejam feitas referências aos filósofos positivistas e a outros que o influenciaram. Seu corpo teórico e suas práticas já se consolidaram no amplo espectro da psicologia behaviorista, que se apresenta como científica. Do mesmo modo, não é preciso que a psicanálise, em todas as suas colocações, cite os filósofos que influenciaram Freud e seu desenvolvimento teórico; ou que a psicologia social esclareça em suas apresentações o pensamento de Marx, ou de outro autor. O paradigma filosófico inicial já foi incorporado e subjaz ao conhecimento sistematizado em cada abordagem. No entanto, o mesmo não ocorre quando se trata da Psicologia Fenomenológica: sua origem filosófica e os conceitos por ela adotados são continuamente reafirmados como que assegurando seu título e a validade de sua posição.
Os principais filósofos da Fenomenologia se referiram à Psicologia, mormente no sentido de circunscrever sua especificidade, examinando a possibilidade de que ela se diferenciasse da Filosofia e se implantasse como disciplina própria e independente. Nessa direção, discutem as possíveis relações que podem ser estabelecidas entre as duas áreas. E o fazem se referindo ao trajeto do desenvolvimento da Fenomenologia. Husserl, Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty e outros (muito bem apresentados pelos autores deste livro) desenvolvem a Fenomenologia, ou melhor, as Fenomenologias, e consideram seu efeito na Psicologia, de modo que a cada um desses pensadores corresponda certo modo de compreender não apenas o que é a Fenomenologia, mas, também, o que poderia ser a Psicologia.
As primeiras incursões pelo pensamento fenomenológico, para além da Filosofia, ocorreram notadamente no campo da literatura, da psiquiatria e da educação e seus efeitos foram cada vez mais ampliados. Criou-se um modo de “apresentar a fenomenologia” em forma de novelas, desenvolveu-se um modo de “fazer fenomenologia”, de tal forma que o “como”, substituindo o “por que”, se tornou uma marca da abordagem e da exposição fenomenológica. A preocupação de desenvolver uma conceituação específica, transportando os conceitos filosóficos e se apoderando deles para criar uma nova teoria psicológica, embora existente, tornou-se marginal. Ao final, a Psicologia Fenomenológica se recusou a ser transformada em ciência no sentido estrito da palavra e a criar um sistema teórico fechado em si mesmo. As diferentes conceituações da Fenomenologia, não se transmutaram em teorias psicológicas, mas foram certamente apropriadas e resignificadas pelos psicólogos fenomenólogos. E sofreram as transformações conceituais inevitáveis nas adoções pessoais. No processo de apropriação, o sujeito não é apenas um receptor. Ele modifica o conceito e se modifica ao encontrar em si novas e insuspeitadas possibilidades de compreensão. Sua subjetividade é afetada, há deslocamentos cognitivos e outros, o que influencia o seu modo de estar no mundo e de agir e, no caso, a sua maneira de ser psicólogo.
Os conceitos da Fenomenologia em sua diversidade e diferenças afetaram os psicólogos que se declaram fenomenólogos ao se apropriarem deles de acordo com seus princípios, valores, escolhas e objetivos. Mantendo como referência os filósofos da Fenomenologia e seus conceitos basilares, os psicólogos puderam transitar e estabelecer relações a partir desses conceitos com diferentes conhecimentos criando interações e produzindo ações originais. Assim, a cada apresentação das produções da Psicologia Fenomenológica são retomados os conceitos apropriados da Filosofia e o modo como foram resignificados por cada um.
E exatamente por não fixar significados estritos, por não incorporá-los em uma teoria fechada, por manter referências amplas, a psicologia fenomenológica se manteve e se mantém em contínuo movimento. E em seu trajeto se reapodera dos conceitos da Fenomenologia, os revê, os recria e os reapresenta em versões similares, porém distintas, gerando um interessante fluxo de interações e atuações que frutificam o campo das reflexões e das aplicações. Essa riqueza e versatilidade são apresentadas neste livro nos capítulos dedicados à clínica, à educação, à saúde, à política e à pesquisa.
Este é o fio da navalha no qual se desenvolve a psicologia fenomenológica: não é uma ciência, não é uma filosofia, é múltipla e se movimenta em revisões, construções, descontruções, anda às margens, cria interfaces, desenvolve técnicas, se dirige a campos variados e desempenha diferentes funções mantendo-se fiel, de diferentes modos, à Fenomenologia. Este é o desafio que se apresenta aos psicólogos que querem fazer psicologia fenomenológica.

Metadado adicionado por Editora Manole em 30/12/2021

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Metadados adicionados: 30/12/2021
Última alteração: 12/09/2024
Última alteração de preço: 12/09/2024

Autores e Biografia

Melo, Fabíola Freire Saraiva de (Organizador) , Santos, Gustavo Alvarenga Oliveira (Organizador)

Sumário

Prefácio
Introdução
Seção I Fundamentos teóricos e epistemológicos da psicologia fenomenológica e existencial
1. Introdução à fenomenologia
2. Contribuições do pensamento de Martin Heidegger para a psicologia fenomenológica existencial
3. A psicologia existencialista com base em Jean-Paul Sartre
4. Contribuições do pensamento de Hannah Arendt para a psicologia
5. Contribuições do pensamento de Simone de Beauvoir para a psicologia
6. Contribuições do pensamento de Frantz Fanon para a psicologia existencial
7. Pensamento decolonial e psicologia existencial
Seção II Campos da psicologia fenomenológica e existencial
8. A clínica existencial
9. Contribuições da psicologia fenomenológica e existencial para o campo da educação
10. Atuação da psicologia fenomenológica existencial no campo da saúde: desafios e possibilidades
11. Intervenções em grupos na perspectiva existencialista
12. Plantão psicológico em uma compreensão fenomenológica existencial
13. A pesquisa na perspectiva fenomenológica: uma proposta dialógica e colaborativa
Índice remissivo



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