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A estrangeira



Joyce Karine de Sá Souza, estrangeira


Sinopse

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Muitos dos versos de A estrangeira não brotam de um manancial sereno. Emergem de uma fonte de ira e maldição, porque “este mundo do homem está mal feito”, Jorge Guillén dixit. Outros nascem da ternura e do amor, tanto de quem identificamos com a pessoa do eu poético [“Amei-te demais, / fui à loucura e não voltei…”] como de outras amantes, especialmente Lou, apaixonada por Rilke. Joyce Karine de Sá Souza, nos poemas de ira, escreve a machadadas, em um discurso entrecortado, “aberto o peito / contra o vento”, com verdades amputadas pelas injustiças da existência. Cidadã do mundo, pária, solidária com os humilhados, a estrangeira sabe que ficar em um só lugar não lhe é possível. 

A poeta de Belo Horizonte não oculta seus gostos poéticos. Ela os declara nos versos do extraordinário Poeta-me: “Borges-me, / Cortázar-me inteira…” E chega assim a dezesseis nomes. O leitor encontrará nos poemas de ira e maldição palavras pesadas, cheirando a suor, a lágrima, a escarro – “escrevo como cuspo”, dizia Blas de Otero. São versos de rua, contra o céu e seus representantes na terra, os Trumps e todos os tiranos.

Como somos apenas “física e química”, gosto de rastrear as metáforas do corpo nos discursos dos poetas, sejam implícitas ou explícitas. E aqui temos uma poeta que percebe a carne de modo pagão. Cito algumas figuras: fratura no peito, sexo, a ponta da língua, o fluxo da saliva, lábios, vinho amargo, peles, cabelos, olhos, falos, medula espinhal. É impossível listar neste breve espaço tudo o que me sugere a leitura da poeta. 

Até agora eu conhecia menos de uma dezena de poemas de Joyce Karine de Sá Souza e, sabendo de sua qualidade, a considerava uma poeta tímida. Mas agora, de repente, se alça diante de nós com uma voz firme, segura, sem pontos baixos, que domina o ofício: mestra no ritmo, nas imagens, nas aliterações, nos enjambements métricos, ela nos ensina que a pressa de publicar é uma má conselheira.

Francisco Álvarez Velasco

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Joyce Karine de Sá Souza sabe que nada há de mais mutante que a carne. Assim, ao invés de um “lugar de fala”, ela se (des)constrói em um “lugar de falta”. É isso que lhe permite escrever um poema em prosa como A virgem louca e o esposo infernal sem ser homem, sem ser homossexual, sem ser francesa, sem ser nascida no século XIX. A grande saúde da poesia está então nessa intensa doação de alteridade, a otredad de que falava Octavio Paz, sem a qual o que existe são apenas monólogos sobre si mesmo, ou seja, as chatérrimas “notícias sobre a província distante de minh’alma” que os turistas adoram escrever e que só agradam a eles próprios e a suas orgulhosas mamães. Tais “notícias”, além de tediosas e autocomplacentes, são perfeitamente inúteis enquanto poesia. Ao seu turno, Joyce Karine de Sá Souza sabe muito bem que a verdade poética está na transmutação e no tornar-se outro, e sabe também que só pode fazê-lo porque seu lugar é um radical não-lugar, uma essencial desessencialização, uma incógnita terra outra que, como estrangeira, ela busca dentro de si e no mundo.

Andityas Soares de Moura Costa Matos

Trecho do Prefácio “Lugar de falta: um corpo estranho na poesia”

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Metadado adicionado por Kotter Editorial em 13/09/2022

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Metadados adicionados: 13/09/2022
Última alteração: 31/10/2022

Autores e Biografia

Souza, Joyce Karine de Sá (Autor)

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