Educar para servir: masculinidades no Asilo de São Francisco de Assis (1888-1940)

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, MASCULINIDADES, INFâNCIA, ORFANDADE, ASILO DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS, EDUCAÇÃO INSTITUCIONALIZADA, SUBJETIVIDADES MASCULINAS, INFÂNCIA POBRE, ASSISTÊNCIA SOCIAL, DISCIPLINA ESCOLAR, GÊNERO E EDUCAÇÃO, SÉCULO XIX, SÉCULO XX

Sinopse

O texto apresentado nesse livro é fruto de uma pesquisa realizada entre
os anos de 2020 e 2023, dentro do Programa de Pós-Graduação em Educação
(PPEDU) da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).

Os fatores que nos motivaram a realizar este estudo sobre as questões
que envolvem a educação da infância pobre e órfã e as masculinidades, no final
do século XIX e início do século XX foram: os poucos estudos no campo de
História da Educação que abordassem a temática, o ineditismo da documentação
e a consciência de que na sociedade estão presentes visões sobre os papéis
considerados adequados a homens e mulheres, e que esses modos refletem
na construção, educação e formação da infância, assim como a formação das
subjetividades “masculina” e “feminina” que decorrem dessas atribuições; e que
o poder do masculino, nos sistemas tradicionais, é exercido através da presença,
da verdade e da autoridade proveniente das ações e dos discursos masculinos.

Trabalharemos, nesse estudo, com a perspectiva de que a infância
está inserida em uma construção social, no qual o contexto e o papel social
da criança influenciam diretamente na forma como a sua infância é construída.

Dessa maneira, a infância é vista como uma condição específica da criança,
que participa da produção histórica e está inserida em um tempo e espaço
determinados. No século XIX, a vida infantil passou a ser alvo de diversas
instituições, e suas experiências foram moldadas pelos valores e princípios
da vida adulta. O objetivo das diferentes esferas sociais era formar indivíduos
disciplinados, obedientes e úteis tanto para si mesmos quanto para a nação.

Dentre as várias infâncias delineadas, a das crianças pobres foi a que mais
sofreu com as exigências da sociedade da época. Crianças carentes, órfãs
e/ou desvalidas eram consideradas necessitadas de controle e deviam ser
conduzidas à idade adulta dentro dos padrões estabelecidos. Sua educação
tinha como propósito a formação para o exercício da cidadania, com foco na
preparação para o trabalho e para uma futura estrutura familiar. Para a educação
e a formação dessas crianças em situação de pobreza, foram criadas instituições
específicas, como os asilos. Esses estabelecimentos tinham como principal
objetivo a submissão dos menores às normas morais, higiênicas, religiosas e
disciplinares vigentes no período. Portanto, a educação de meninos órfãos foi
afetada por aspectos para além da criação de uma instituição para acolhê-las,
mas por práticas organizadas em relação a estruturação das relações de poder.

A ideia de que a definição de homem pode ser diferente, de acordo com a
cultura em que o sujeito está inserido, ou seja, a classe social e o grupo étnico nos
quais os sujeitos, homens, estão inseridos; a educação e os valores apreendidos;
o lugar que se vive e a religião que se segue interferem diretamente em sua
prática social foram essenciais para as análises desta pesquisa. Compreender e
trabalhar com o conceito de masculinidades requer uma visão histórica dinâmica
do gênero, uma vez que essa ideia de masculinidade se configura a partir de
práticas organizadas em relação a estruturação das relações de gênero.

Levando-se em conta tais premissas, optamos por pesquisar a atuação do
Asilo de São Francisco de Assis relacionadas as construções de masculinidades,
entre os anos de 1888-1940. Para isso, utilizamos documentos institucionais,
como o estatuto do asilo, atas de reuniões, relatórios institucionais; além de
periódicos sanjoanenses; fotografias; cartas e legislações brasileiras e mineiras
destinadas para menores abandonados, desvalidos, delinquentes e órfãos.

O cruzamento dessa diversidade de fontes nos permitiu analisar aspectos
da educação e da formação da infância pobre no contexto mineiro. Contribuiu
também para identificar o caráter filantrópico desenvolvido pela elite sanjoanense
pertencente a Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Assis. Além da
presença das disciplinas e dos ofícios no asilo, o que indicava o carecimento de
cidadãos disciplinados, aptos para o mundo do trabalho e para servir a pátria.

A diversidade de práticas educativas constante nas ações do asilo demonstrava
uma instituição em sintonia com os discursos vigentes no período, que buscava
se adaptar e acompanhar a ordem social do momento.

Para tratar dessas questões, optamos por dividir este livro em três
capítulos. O primeiro, “Entre a infância e a assistência”, apresenta as concepções
de infância, assistencialismo, relação igreja e infância e as instituições
criadas e destinadas à infância. Além das legislações voltadas para a infância
desvalida. Já o segundo capítulo, “Do Asilo de São Francisco de Assis às
instituições administrativas”, descreve o Asilo de São Francisco de Assis e as
instituições administrativas que funcionaram anexas a ele, a saber: o Instituto
de Humanidades, o Gymnásio São Francisco e o Instituto Padre Machado.

O interesse foi realizar o entrecruzamento de informações para se chegar à
educação e à assistência fornecida aos asilados. Ademais, compreendeu a
realidade social, política e educacional da cidade de São João del-Rei, no período
pesquisado. Por fim, no terceiro e último capítulo, “A educação de meninos no
Asilo de São Francisco de Assis: Masculinidades presentes na formação da
infância sanjoanense”, é analisado a construção das masculinidades, além de desvendar as características e a educação dos asilados, questões relacionadas
a raça, a formação para o trabalho, bem como sobre a disciplina e a constituição
moral dos meninos asilados.

Desse modo, esse livro vai contribuir para esclarecer aspectos da
educação e formação da infância em Minas Gerais, com ênfase na instrução
de meninos órfãos. Ao examinar as práticas voltadas para a infância pobre,
órfã e desamparada, tanto em Minas Gerais quanto em São João del-Rei, o
estudo contribui para preencher uma lacuna historiográfica sobre a educação
e a formação dessas crianças. A partir da análise da ação assistencial do Asilo
de São Francisco de Assis, a investigação também auxilia na compreensão
da constituição de asilos e outras instituições voltadas para a infância órfã,
especialmente no contexto mineiro.

Metadado adicionado por Atena Editora em 10/09/2025

ISBN relacionados

--